sexta-feira, 5 de junho de 2009

Etiqueta

Blusa nova.
Saí toda bonita, bela e formosa.
Dia de apresentação em outra cidade.
Vou falar do meu trabalho lá em Edimburgo (que aqui se pronuncia Edinbrá, não sei por quê).

Tô no trem agora. Mas antes de chegar (no trem), acordei (?), me troquei, pedalei, esperei.
Foi enquanto eu esperava...
Uma mocinha loirinha veio avisar: ‘excuse me, did you know... ‘ e balançou uma etiqueta da H&M.
’No, I didn’t’.
A mocinha se foi e a etiqueta ficou! Pendurada na minha blusa.
Isso mesmo, enquanto eu esperava o trem, os passantes observavam o descuido, o preço, a palhaça.
Mais tarde notei que a camisa ostentava também o meu ‘size’ em uma fita adesiva bem grande e redonda.
Tô na boca do povo. Não se fala em outra coisa...

Ah, eu acho muita falta de etiqueta ficar comentando, sabe.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Patinho feio

Hoje eu vi um pato adolescente.

Dá tanta alegria ver um patinho!
Um patinho é uma bolinha de penugem que anda bem rapidinho.
Um pato adolescente é grande demais pra ser pequeno e pequeno demais para ser grande.
É o altão da 4a série, vítima do crescimento descontrolado, com braços maiores que as pernas e aquela penugem no buço.
Um pato adolescente dá um certo mal estar.
Ele não é o que era e nem o que vai ser.

Dá tanta alegria ver um mestrando!
Um mestrando é um bolinha de massa cinzenta sedento por aprender.
Um doutorando estudou demais pra saber pouco, mas sabe pouco demais pra ser um estudado. É o altão da 4a série...

Fazer doutorado dá um certo mal estar.
Difícil é saber se eu queria ser cisne ou queria ser patinho.

terça-feira, 17 de março de 2009

Primavera...

York tem 4 estações e eu também!

Muda a estação, muda tudo.
O sono, a cor, o humor e os patos.

No inverno eu não conseguia acordar, agora não consigo dormir.

(a cada dia ganhamos 15 minutos a mais de luz solar - inventei isso - e dizem que só vai "piorar")

No inverno as árvores tinham morrido, agora tá tudo ficando colorido.

(e dizem que a minha nova doença será alergia à pólen: e viva a spring hypochondria!)

Os patos agora são seguidos por seus filhinhos.

(e o qua qua qua é mais alto e estridente)

Mas, quaquaraquaquá, quem ri sou eu!


As águas de março fecham o verão - e mantém o calor - por aí, e a primavera tá chegando com um soprinho 'mais quente' de 10°C por aqui.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Paciência Curda

- Tive uns problemas com o visto nesses últimos 10 dias
- Ah, que ruim
- É, comigo esse tipo de coisa sempre dá errado
- Ah, magiiiina, curdÔ!

Eu fiz minha mãozinha de "magiiiina", dei aquele sorrizinho de "você vai tirar isso de letra, logo mais ganha o greencard europeu", mas o curdo não se comoveu. Depois parei pra pensar, apesar do peso da frase (comigo dá tudo errado), não havia na entonação nenhum pedido de piedade, era só uma constatação.
Constatou certo!
Com ele tudo dá errado!

Ele mora na região autônoma do Curdistão no Iraque. A verdade é que ele mora no Iraque! Curdo não tem país (oficialmente), vocês sabem, né. Ou seja, já nasce dando um pouco errado, mas de resto tá tudo bem.

Quando um curdo decide vir fazer mestrado na Inglaterra ele não pode aplicar para o visto do Iraque. Por algum motivo (há de haver vários) não se aceita aplicações do Iraque. Os iraquianos (ou curdos da região autônoma...) podem aplicar para o visto se o solicitarem de um país vizinho.

O nosso curdo enviou um email à embaixada britânica no Irã explicando sua situação e recebeu resposta afirmativa. Fez as malas, juntou documentação e foi para o Irã. Não quero me alongar, mas a verdade é que enrolaram o moço por uns três dias para dar a resposta, quando finalmente disseram que os vistos iraquianos devem ser solicitados da embaixada britânica na Jordânia, e não no Irã. O curdo mostrou a cópia do email, mas recebeu um "yes, it is our mistake, sorry, but there is nothing I can do". Eu, na minha ignorância, imagino dois iranianos com metralhadoras atrás da recepcionista dizendo a tal frase.

O curdo aceitou facilmente, fez as malas e foi para a Jordânia. Outro país, minha gente! Foi enrolado por uns três dias e, antes de darem o parecer final, marcaram uma entrevista. Não lembro aqui o que aconteceu, mas sei que ele foi de um lugar a outro na Jordânia e só no outro dia conseguiu o visto.

Bom, ele conseguiu o visto!

Aí começa a maratona da bolsa de estudos. Só sei dizer que ele visitou o ministro duas vezes, deu uma palestra sobre física quântica e tudo mais. Tudo certinho então tá bom, até que a carta veio com uma resposta negativa. Dessa vez não devia ter ninguém com metralhadora atrás (eu que tô inventando isso, viu, pelamordedeus) porque o curdo foi lá no ministro tirar satisfação. Algo a ver com ele não ter terminado 2 anos de estágio não sei onde. Ele terminou e aplicou de novo, dessa vez mudaram as regras: só poderia receber bolsa quem fosse para o exterior fazer doutorado e não mestrado.

O curdo veio mesmo assim. Pegou dinheiro emprestado do pai, do irmão, dos amigos e cá está, na red house! Enquanto estava aqui, soube que as leis mudaram novamente e seria possível solicitar "reembolso de bolsa". Lá foi o curdo, foi duas vezes para Londres, solicitou que o irmão fosse pra Bagdad levar a documentação e etc...

O pedido foi aceito!, mas veio no nome do irmão (que assinou um papel não sei de quê quando deixou a documentação lá). Entra com o pedido de mudança de nome, espera, espera, vai pra londres, volta, liga todo dia na embaixada... Nada! Pede para um amigo do amigo que mora em Bagdad passar lá e ver o que se passa. A resposta é a seguinte: não sabem do que se trata, não há nenhum processo com esse número e etc, MAS mudamos de locação nesse último mês, pode ser que esse processo tenha ficado perdido no meio do caminho.
!!!

O curdo abre outro processo, dessa vez contratou uma pessoa em bagdad para ser seu "representante". O motivo ele disse: é perigoso para nós curdos irmos até Bagdad por causa da fronteira curdistão-iraque. PQP! Mais metralhadora na jogada.

Bom, só sei que o curdo tá no fim do mestrado, conseguiu a bolsa, mas veio com a data errada e agora começa a nova saga para mudar. Nesse meio tempo o visto expirou e eu nem sei quantos países esse menino terá que visitar para poder se regularizar.

Cultural shock pra nós: não havia ar de piedade, saco cheio, cansaço, vou desistir... NADA! Havia somente a "paciência curda" e a constatação de que pra ele as coisas dão errado mesmo.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Estatística

Como leitora de "statistics for dummies" e ex-professora particular picareta de estatística para psicólogos eu posso afirmar que: estatísticamente é improvável que eu tenha os melhores chefes do mundo, os melhores amigos do mundo e que um dia eu vá conhecer o melhor namorado do mundo***.
Mas isso é só estatística, porque eu realmente tenho!
Aprendi isso outro dia com um pesquisador aqui de York, que disse que estatísticamente era improvável que ele tivesse os dois melhores filhos do mundo, mas ele tinha. Eu não tenho filhos, mas acho que vai ser complicado, estatísticamente, porque me parece haver uma grande possibilidade de que eles sejam também os melhores do mundo.
Fazer o quê?

Tô in love com o mundo.

Acho que é porque está escurecendo só as 5h da tarde agora e eu estou me recuperando do meu SAD. Aliás, ainda estou tentando entender porque, apesar de estatísticamente improvável, a única coisa que não me incomoda no inverno é o frio. Mas o sono, sono, sono, fome, sono, sono, muito sono que eu tenho! Olha, turma, não foi bolinho, viu!

Update:
***E não é que conheci? Ai ai, Dani Waismann, provando que dá pra ser mais feliz do que eu achei que poderia ser!! Sorry, statistics! 

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Panic Nation

Aqui o povo é tão educado que tem verdadeiro PAVOR de te desapontar.

-"I'm afraid not. I'm sorry"
-"I fear we won't be able to help you. Please, accept my apologies"

Desculpa eu, por causar tanto medo em vocês, só tava perguntando...

Em inglês britânico, não se diz: "não, não rola, nem, no way". Diz-se: "tenho medo que não, receio que não role, temo que nem, tô apavorada, mas não tem jeito".

Se bem que no português brasileiro, diz-se: "sim, eu dou um jeito, tá bom, claro que dá, magiiiina".

Por um lado a gente é a nação mais dá um jeitinho que existe. Flexible nation!, but I'm afraid we ...

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Give peace a chance!

Antes da red house, eu procurei outros lugares pra morar.
Numa das minhas primeiras visitas, fui recebida por um homem com três crianças. Uma no colo, outra no colo e a outra no colo também, não me pergunte como.
Eu tinha falado com a esposa por e-mail.
O marido sabia pouquíssimas palavras em inglês e, por algum motivo, as que ele sabia, repetia três vezes:
"room, room, room";
"upstairs, upstairs, upstairs";
"sit, sit, sit";
"wait, wait, wait";
"wife, wife, wife";
"english, english, english";
"work, work, work".
Vi o quarto, subi as escadas, sentei e ia esperar pela esposa que falava inglês e estava trabalhando, mas resolvi ir embora porque as crianças estavam crying crying crying por hungry hungry hungry e eu não queria atrapalhar.
- Where are you from?
- Gaza, gaza, gaza
Pouxa vida, é tão legal conhecer gente de tanto lugar do mundo!
Por que eu moro com um curdo e quase morei com um palestino.
E porque eu não gosto de morte, sangue, guerra, tristeza e sofrimento.
E também porque eu acho que existem outros jeitos de resolver as coisas, achei por bem participar de um abaixo assinado solicitando que os pobres meninos e meninas isralenses que se recusaram a participar do ataque à faixa de gaza sejam soltos. É só clicar na imagem e no site tem mais informações.