segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Panic Nation

Aqui o povo é tão educado que tem verdadeiro PAVOR de te desapontar.

-"I'm afraid not. I'm sorry"
-"I fear we won't be able to help you. Please, accept my apologies"

Desculpa eu, por causar tanto medo em vocês, só tava perguntando...

Em inglês britânico, não se diz: "não, não rola, nem, no way". Diz-se: "tenho medo que não, receio que não role, temo que nem, tô apavorada, mas não tem jeito".

Se bem que no português brasileiro, diz-se: "sim, eu dou um jeito, tá bom, claro que dá, magiiiina".

Por um lado a gente é a nação mais dá um jeitinho que existe. Flexible nation!, but I'm afraid we ...

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Give peace a chance!

Antes da red house, eu procurei outros lugares pra morar.
Numa das minhas primeiras visitas, fui recebida por um homem com três crianças. Uma no colo, outra no colo e a outra no colo também, não me pergunte como.
Eu tinha falado com a esposa por e-mail.
O marido sabia pouquíssimas palavras em inglês e, por algum motivo, as que ele sabia, repetia três vezes:
"room, room, room";
"upstairs, upstairs, upstairs";
"sit, sit, sit";
"wait, wait, wait";
"wife, wife, wife";
"english, english, english";
"work, work, work".
Vi o quarto, subi as escadas, sentei e ia esperar pela esposa que falava inglês e estava trabalhando, mas resolvi ir embora porque as crianças estavam crying crying crying por hungry hungry hungry e eu não queria atrapalhar.
- Where are you from?
- Gaza, gaza, gaza
Pouxa vida, é tão legal conhecer gente de tanto lugar do mundo!
Por que eu moro com um curdo e quase morei com um palestino.
E porque eu não gosto de morte, sangue, guerra, tristeza e sofrimento.
E também porque eu acho que existem outros jeitos de resolver as coisas, achei por bem participar de um abaixo assinado solicitando que os pobres meninos e meninas isralenses que se recusaram a participar do ataque à faixa de gaza sejam soltos. É só clicar na imagem e no site tem mais informações.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Hot hot hot

Esquece tudo o que eu falei sobre o frio em York, a irmã do Juba está a MENOS 35°C no Canadá.
Eu mal sabia que existia vida à -35.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Deixa estar

Ô, por que não fica tudo igual por aí enquanto eu tô por aqui?

Eu não quero que nada mude.
Não quero perder nada.
Nenhuma conversa, nenhum minuto de diversão, nenhuma piada nova.

Quero a garantia de que quando eu voltar vai estar tudo igual.

Então, deixa a poltrona no quarto, deixa o cabelo crescer, deixa a cor da parede como está, e -mais importante- deixa a língua que eu me vanglorio por saber, do jeito que eu sei!

Pouxa vida.
Não sei inglês e já não sei mais português.

- Por que, Pri? Esqueceu?
- Não, mudaram enquanto eu tava fora...

domingo, 4 de janeiro de 2009

Not alone!

Tem gente que cuida de mim.

A família do landlord vive na Alemanha, mas visita com certa freqüência. A esposa dele resolveu me cuidar quando veio visitar: trouxe mais móveis para o meu quarto; trouxe um cobertor; trouxe um abajour; trouxe uma almofada. Cada dia que eu chegava em casa era uma coisa nova. Quando eu contei rindo que caí da bici, ela não riu! Disse: “this is serious”.
Achei o máximo as mães alemãs.

A belga que mora aqui, às vezes me cuida. Outro dia cismou que eu não deveria sair com o cabelo molhado nesse frio, insistiu que eu aceitasse o secador emprestado. Eu não costumo usar secador, recusei. Ela subiu as escadas correndo atrás de mim e suplicou: “please, use this, it is too cold, you are going to get sick”. Usei. Quando ela viu meu cabelo de Gal Costa, entendeu a recusa. Agora não oferece mais, resolveu cuidar da minha aparência.

O curdo resolveu me cuidar. Desde que eu fiquei homeless por algumas horas (ver: Ninguém podia entrar nela não...) ele tá assim. Vive me oferecendo comida! Hoje me deu arroz branco e sopa. Eu amo arroz branco. Desculpou-se por não ser a verdadeira e tradicional comida curda que ele pretende um dia oferecer quando a irmã dele vier.

Isso sem falar dos vizinhos escoceses...

Eu gosto daqui!

sábado, 3 de janeiro de 2009

Ninguém podia entrar nela não... (IV)

(boas notícias, esse é o último capítulo, leia esse, esse e esse antes!)

O marido se calou e foi absorvido pelo futebol, mas eu e “as meninas” continuamos conversando.
Falamos sobre os netos, o natal e a vida...

O telefone tocou.

EU atendi.
-“Look at me, I’m already answering the phone here...”

Era pra mim. Era o landlord dizendo que o curdo estava em casa e abriria a porta pra mim.

O marido já tinha abandonado a missão, então a esposa - ainda desconfiada - pediu que sua irmã me acompanhasse até a casa.

Fomos ao portão principal e ele estava aberto. A garagem escura e fria. Passamos pelo corredorzinho até a porta principal e, pela janela da cozinha eu avistei alguém.

Alguém. Um desconhecido? Seria o mesmo curdo com novo penteado? Um psicopata? Assassino? Terrorista? (eu sempre penso nessas coisas).

Era outro curdo, inofensivo. Ufa! Lá veio o “meu” curdo com a chave.
Tô em casa agora.
Quero morar na Escócia.
End of story.

Ninguém podia entrar nela não...(III)

(Nem adianta começar a ler se não leu esse e esse)

Ao telefone, o landlord contou que, além do portão principal, a red house tem mais dois portões. Um deles dá para os fundos do hotel onde eu fui procurar pela chave e o outro dá numa pracinha.
Nunca vi esses portões, eles ficam no jardim que, devido ao frio, é ainda pouco explorado por mim.

Para facilitar a nossa vida, usamos somente uma chave que abre todos os portões e portas para entrar na casa. Como o portão da pracinha nunca é usado, o trinco não foi trocado.

Lá estava a solução: eu poderia entrar na casa pelo portão da pracinha e, em seguida, pela porta da lavanderia na qual também foi mantido o trinco antigo.

Como estava frio, escuro e não havia ninguém na casa, a escocesa preocupou-se e disse que eu não deveria ir sozinha. Solicitou que o marido me acompanhasse. Prima e irmã se empolgaram. Todo mundo pegou casaco, trocou sapato, pegou lanterna. Lá fomos nós. Brincamos que estávamos numa ‘missão’, que logo se mostrou realmente ‘impossível’.

Por nunca ser usado, o trinco do portão da pracinha já não aceitava a velha chave, ela mal entrava. E olha que a “prima” é corretora e garantiu conseguir abrir qualquer porta emperrada! O marido achou que eu poderia ter confundido os portões e decidimos dar a volta na casa e tentarmos o portão próximo ao hotel, ‘missão: impossível 2’.

Ele lembrou que a red house um dia pertenceu ao hotel, o que explicava a existência desse terceiro portão. Entramos no hotel e procuramos pela gerente, explicamos a situação e rogamos por algum tipo de acesso à casa. Ela tentou! Fomos pelos fundos, passamos pela piscina aquecida, havia uma entradinha, mas um muro foi construído após a venda da casa. ‘Missão: impossível 3’.

Voltamos. Avisei o landlord sobre o insucesso das missões e ele pediu um tempo para pensar no que fazer. Lembrou que havia uma chave extra no departamento de matemática, mas que eu só teria acesso a ela na 2ª feira.

Estava passando futebol na TV.

O marido concluiu: você é bem vinda e pode ficar aqui até segunda-feira (a esposa interrompeu, ela pode ficar até quando precisar). Fique à vontade, a única regra da casa é a seguinte: “whenever there is football on TV, be silent".

Ninguém podia entrar nela não... (II)

(se quiser entender, leia esse antes)

Em pé, sem parar de tocar a campainha com uma mão, peguei o laptop com a outra e tentei me conectar à internet através da rede wireless da casa (pois é, vontade incontrolável de checar e-mails bem nessa hora).

Achei que encontraria o landlord online, ele é meio viciado em e-mails como eu.
Não consegui conectar, sinal fraco.

Passou uma senhora, assistiu à cena mochilão-mochilinha-bolsa-laptop-campainha, sorriu e comentou:

- “Nobody there, hã?”
- “Yé. Nobody”
- “Well, you know, they might be home for Holidays”
- “Actually, I live here, but bla bla bla bla”
- “Oh, I see, you could use the internet at my house”

Aceitei. Segui. Entrei na casa e tirei os sapatos como ela. No meu caso eram galochas com motivos escoceses que eu comprei em San Francisco. Coincidentemente, era uma família escocesa. Na sala fui apresentada ao marido, à irmã gêmea e à prima.
Ano novo, família reunida...

Internet, landlord offline, confirmei o nome do hotel e com mais coragem, quentinha e sem a mala nas costas, liguei e insisti que a recepcionista procurasse a chave novamente (até no cofre do hotel) e ligasse para outras pessoas que poderiam estar na recepção noutros dias.
Nada da chave.
Enviei um e-mail ao landlord.

Enquanto isso os escoceses arrumaram ‘minha cama’. Sim, ofereceram quarto, banheiro e etc até que a situação se resolvesse. Nem pensei, aceitei e fui tomar um banho.
Voltei pra sala.
Mesa posta, vinho na taça, salmão no prato e eu era parte da família...

O Maridão:

- So, Brazil? Ronaldinho?
- Yes, Ronaldinho
- Can I tell my friends you are his cousin?
- Yes, sure (tá me chamando de feia?)

Jantamos, conversamos mais – eles que me contaram sobre a “realeza” do landlord, eu já achava ele meio senhor feudal -, rimos, bebemos mais vinho, o telefone tocou.
Era o landlord.
Pediu um milhão de desculpas, esqueceu de deixar a chave no hotel!

Ninguém podia entrar nela não... (I)

Vinte e quatro horas de viagem*, uma mochila grande e pesada nas costas, uma mochila menor na frente e uma bolsa de laptop a tiracolo.

Encaixada na bagagem, com os bracinhos balançando, as mãos frias dentro das luvas e as orelhas congeladas debaixo da touca, cheguei à recepção do hotel:

-” Hi, my name is Priscila, I live in the red house and I came here to get the new keys”
-” I’m afraid I know nothing about any key, I’m sorry”

O dono da red house é alemão. Matemático. Quieto, sério, alto e metódico. Elegante, calmo e dócil. Um gentleman (mais tarde descobri que é realmente algum tipo de lorde alemão).
No final do ano ele se mudou pra Alemanha (ficará lá com a família por uns 6 meses), mas antes de ir, fez melhorias na casa: trocou os trincos velhos.
Eu já estava em San Francisco quando ele fez as mudanças, por isso fui primeiro ao hotel, localizado próximo à casa, onde estaria a nova chave.

Ele escreveu num e-mail: peça a chave da red house na recepção do hotel em qualquer dia, qualquer horário.

Simples assim, but they knew nothing about it...

Em frente à Red House, tinha comigo a mochila grande, a pequena, a bolsa do laptop, o cansaço, o frio e minha chave velha. Toquei a campainha. Ninguém! Peguei o celular e liguei. Ninguém!

Era dia 02 de janeiro, às 15h30. Muito dramático dizer que em meia hora escureceria?

* ou quase isso: San Francisco – Los Angeles: 1h22/ Espera em Los Angeles: 8h/ Los Angeles – London: 10h/ London Heathrow – London King’s Cross: 1h/ London King’s Cross – York: 2h

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Nesse ano eu começo a ginástica...

"O tigre e o dragão" é um filme de faz tempo, lá pra 2000.
Dizem que é lindo de morrer!

Eu não achei, mas não posso dizer muito. Não vi inteiro. Dormi. Dormi duas vezes. Dormi no cinema duas vezes. Dormi no cinema duas vezes seguidas.
Eu tentei!
Na primeira vez achei que era cansaço. Na segunda, concluí que era o Mandarim. Mandarim dá sono. É um som diferente, um outro ritmo, outra música, é atonal, sabe? (essa eu pesquisei). Sem falar naquela mulherada voando com um facão na mão (é isso? é desse filme? eu sonhei?).


Em 2006 eu fui pra Australia, só vi chinês; em 2008 pra York, só vi chinês; estou voltando de San Francisco e, a não ser que eles estejam me perseguindo por ter falado mal do filme, eu acho que eles vão dominar o mundo mesmo. É verdade! A Veja não mentiu!


Promessa de ano novo: aprender Mandarim!

Feliz ano novo pra todos e, se minha promessa não funcionar, pelo menos na ginástica eu entro. Não?